Toda mulher já teve um Ricardão na vida. Namorado, amigo, ficante... E me parece que eles não são muito diferentes, a não ser a embalagem é claro... rsrsrsrsrs. Há alguns dias atrás eu vi um texto de Martha Medeiros numa página em homenagem a ela, onde fala exatamente de um "Ricardo". Nos comentários percebi que muitas mulheres se identificaram muito com o texto, então resolvi postá-lo aqui no blog. Se você também se identificar com esse texto, não hesite em comentar. Se você for um Ricardo e quiser protestar (rsrsrsrs) sinta-se à vontade também.
“Rique,
há
dois anos que eu pareço um disco riscado, repetindo sempre a mesma coisa, que
eu gosto de você mas não gosto do seu esnobismo, gosto de você mas não gosto do
seu jeito escorregadio, gosto de você mas não gosto da sua vaidade.
Estou
sempre falando as mesmas palavras, e a gente vai se desencontrando, se
desentendendo, seja no silêncio ou na repetição, nunca se afastando realmente e
também nunca juntos, uma lenga - lenga que pode até parecer amor – eu
acreditava que fosse amor, por isso passei esses dois anos controlando meu tom
de voz, acendendo uma vela pra deus e outra pro diabo, querendo você perto e
longe ao mesmo tempo, então repetia: gosto disso em você mas não gosto daquilo,
sempre com medo de que você se irritasse de vez e fosse embora, mas com medo
também que você ficasse e me fizesse sofrer mais e mais. Dois anos, Ricardo,
pedindo pra você me deixar em paz e nas entrelinhas gritando: me ame, seu
idiota! E você surdo, mudo, cego e burro, desperdiçando o que eu tenho de mais
sagrado, de mais inteiro e mais honesto, você sempre foi covarde que eu sei.
Covarde. É por isso essa carta agora, Ricardo, para mudar de tom e arriscar,
vou dizer o que penso, mas agora sem contemporizar, não mais contrabalançando
minha decepção com as coisas que eu gosto em você, vou te dizer apenas o que eu
não gosto, e azar se isso nos separar de vez, já não há remendo possível de
qualquer maneira.
Te acho não só covarde, como mascarado, ainda que bem
disfarçado por trás da sua lábia e de suas inócuas intenções. Se você tivesse
17 anos, ainda dava pra entender essa sua fixação em seduzir por seduzir, para
colecionar troféus. Todo mundo passa por uma fase de auto afirmação, mas aos
35, Ricardo, já era hora de você parar de blefar e investir em algo real, um
sentimento que preencha a vida, você acha isso tão aprisionante? Pois
prisioneiro você já é desta tua auto imagem que propaga para qualquer rabo de
saia e que é falsa, incipiente, ridícula. O que adianta fazer as mulheres
caírem aos teus pés por dois ou três meses, se depois elas descobrem o engodo e
passam a desprezá-lo? Se você fosse orgulhoso mesmo, reduziria o número de
vítimas e aumentaria o número de amigas. Porque se continuar sendo moleque vai
morrer bem sozinho, ou com alguma namorada de ocasião, dessas que não vão lhe
dar filhos nem justificar seus dias gastos. Você gasta seus dias com o
supérfluo. E se acha tão profundo.
“Outra apaixonada”, você deve estar pensando. Não
negarei, sou mesmo apaixonada por você, mas menos, bem menos do que já fui,
pois já consigo enxergar quem você é, e quem você pensa que é, duas figuras bem
distintas, pois você pensa que é especial, e não passa de uma caricatura de
homem, de um disfarce bem feito, um boneco de cera daqueles que a gente diz,
nossa, mas é igualzinho a um ser humano, só que olhando de perto a gente vê que
a expressão não muda, o olhar não brilha, a pose é sempre a mesma.
Pobre você, don juanito, que teve mulheres bacanas na
mão, não só eu, mas eu inclusive. Você que podia ter dado um basta nas suas
pretensões e ter vivido um caso de amor igualzinho aos de seus amigos, bem
demorado e bem curtido, mas ora, imagina, Ricardo Saraiva Paz Vieira, ilustre
ninguém, não podia ser mais um, tinha que se destacar, e se destacou como um
pretenso bom partido, enquanto não passava de um produto mal acabado de gente.
Você prometia. Tinha, e tem, potencial. Só não sabe o que fazer quando chega a
hora de se entregar, prefere escapulir feito um rato.
Rique, magoei você o suficiente para me odiar, para me
chamar de maluca, para tripudiar sobre meu destempero? Não me importo, você
pode estar menosprezando minhas palavras agora, mas elas vão entrar uma por uma
na sua cabecinha, vão morar aí por alguns dias até que você consiga mais duas
ou três trouxas que o distraiam e o façam esquecer de quem você realmente é, um
arremedo de homem, um protótipo, um rascunho, isso, você é o rascunho do homem
perfeito, um layout, fica sempre devendo a finalização, o mulherio paga e não
te recebe, você deve achar isso muito divertido. Mas, escuta, o único palhaço
aqui é você, porque no final das contas é você que resta sempre sozinho, sem
uma história verdadeiramente bonita pra contar.
Hoje não tem quero e não quero, gosto e não gosto,
acabaram-se os meus cuidados com você, o morde e assopra, você não merece meu
carinho, meus elogios, meu apoio, nunca soube retribuir nem agradecer,
considera-se merecedor de todos os afetos, quem é você, um príncipe escondido
nesse quarto e sala em que vive, dirigindo seu Corsa como se fosse uma nave
espacial, olhe bem pra você, nem bonito você é, nem bonito.
É o homem que eu amo, e isso lhe deveria servir. Mas, se
não serve, se você dispensa esse tipo de sentimento barato, fazer o quê?
Para mim é sofrimento localizado, e demorado, admito, mas
não vai durar tanto quanto a sua catástrofe emocional, que é pra sempre.
Cecília”
Martha Medeiros
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