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Só nos extremos

 "Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos". Disse Clarice Lispector uma vez, e desde a primeira vez que li esta frase, tomei como filosofia de vida.
 Sempre detestei frescuras: gente que não toma sol pra não se queimar, gente que tem medo de se envolver, que não toma chuva pra não molhar os cabelos, que não sabe viver consigo mesmo, que não chora pra não borrar a maquiagem, que fica em cima do muro.

 Bom mesmo ir até os limites da atmosfera de tanta felicidade, ou até as profundezas do oceano de tanta tristeza. Borrar a maquiagem de tanto chorar numa mesa cheia de comida pra aliviar o sofrimento, ou deixar o make ir pelos ares chorando de tanto rir, sair em dia de chuva sem se preocupar com os cabelos, se envolver com alguém e se jogar de cabeça, pular do muro, enfim... viva nos extremos.

 Porque "pessoas água com açúcar" são entediantes. Tem um milhão de decisões a tomar, e morrem indecisas. Querem mudar, mas sequer pintam os cabelos. Querem amar, mas vivem com medo. São cheias de teorias e nenhuma prática. E o pior: adoram encher o saco dos outros com suas ideias "meeiras".

 O negócio é sair com a galera toda no fim de semana, ou ficar sozinho em casa assistindo filme comendo pipoca; não estar nem aí por que ninguém apareceu na sua festa de aniversário, ou passar a noite de cara feia pelo mesmo motivo; viajar pra ficar no hotel dia todo? nem pensar! ficar em casa é mais econômico, e dá no mesmo.
 O intenso emociona, explode, impressiona, alivia, piora. O morno enjoa, entedia, nauseia. É melhor estremecer de frio ou morrer de calor. Ficar no mormaço é um horror.

Mara Morenna

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